Atividade física, distúrbios hipertensivos e diabetes na gestação

Por Elke Oliveira

6 de novembro de 2013

Os principais distúrbios hipertensivos na gestação são: pré-eclâmpsia, que consiste em elevados níveis pressóricos associados à proteinúria ou edema patológico; hipertensão arterial induzida pela gravidez (aumento do nível pressórico após a 20ª semana de gestação) e hipertensão arterial crônica (a gestante já era hipertensa antes de engravidar) (Ferrão, 2006).

Esses distúrbios são relativamente comuns e afetam 3-9% das gestantes em todo mundo. No Brasil esse índice é um pouco maior, podendo atingir 6-17% (Oliveira et al., 2006). Os principais fatores de risco são: obesidade pré-gestacional, extremos de idade materna, histórico familiar, raça negra, gravidez múltipla e diabetes (Roberts et al., 2011; Mudd et al., 2013).

Uma das maiores preocupações é que a hipertensão arterial durante a gravidez está associada ao parto prematuro, considerado a principal causa de morte materna (Roberts et al., 2003).

Neste sentido, é muito importante combater, ou melhor, prevenir a hipertensão gestacional. Para isso, muitos especialistas recomendam a prática de atividade física. Acredita-se que exercício bem orientado pode contribuir para diminuir os valores pressóricos também durante a gravidez (Mudd et al., 2013; Saftlas et al., 2004).

Ao estudar o risco de pré-eclampsia, Sorensen et al. (2003) avaliaram 201 gestantes hipertensas e 384 normotensas. No final da pesquisa, eles concluíram que as mulheres que realizavam atividade física regularmente com intensidade leve à moderada, em comparação com as mulheres inativas, demonstraram uma redução no risco de pré-eclâmpsia em 24%. Outro dado curioso foi que as grávidas envolvidas em atividades com alta intensidade tinham uma redução ainda maior, 54%.

Yeo et al. (2000) avaliaram o efeito do exercício aeróbio na pressão arterial de 16 gestantes com distúrbios hipertensivos. Depois de 10 semanas (da 18ª a 28ª semana) foi verificado que a prática da atividade física levou a uma redução significativa da pressão arterial.

De acordo com os estudos citados acima, o exercício durante a gestação pode contribuir para a diminuição dos valores pressóricos e os riscos dos distúrbios hipertensivos. No entanto, todos os autores foram categóricos ao concluírem que existem poucos estudos para afirmar de forma categórica que o exercício diminui os níveis pressóricos em gestantes com hipertensão gestacional. Isso, talvez, se deva ao fato da dificuldade em conseguir voluntárias para amostra, já que se trata de um grupo de risco. Parece-nos que o melhor mesmo é a prevenção por meio de hábitos saudáveis.

Diabetes gestacional

A diabetes gestacional é a hiperglicemia com primeiro diagnóstico durante a gravidez. Normalmente é causada por complicações perinatais ligadas diretamente ao controle glicêmico materno.

Os principais fatores de risco da diabetes gestacional são: obesidade pré-gestacional, idade materna avançada, raça negra e histórico familiar.

Dados mundiais revelam uma prevalência de diabetes gestacional variando entre 1% e 28%. Entretanto, nos países desenvolvidos essa taxa diminui consideravelmente, entre 2% e 10% (Jiwani et al., 2012).

A gestante com glicemia alterada aumenta o risco de o bebê nascer macrossômico, ser obeso na infância e desenvolver doenças metabólicas quando adulto (Mudd et al., 2013).

No entanto, sabe-se que a prática de atividade física pode reduzir o risco de desenvolver diabetes em até 66% (Dempsey et al., 2004). Isso se deve ao fato de a adaptação ao exercício estar relacionada com a melhora da sensibilidade à insulina, controle da glicemia e controle do ganho de peso (Mudd et al., 2013).

Tobias et al. (2011) escreveram uma meta-análise com o objetivo de verificar a relação da atividade física antes e durante a gravidez com o risco de desenvolver diabetes gestacional. Somando a amostra de todos os artigos, o número de gestantes que praticavam atividade física antes da gestação foi de 34.929 mulheres, incluindo 2.813 casos de diabetes. Já o número de gestantes que realizou exercício durante a gestação foi de 4.401, incluindo 316 casos de diabetes. Os resultados demonstraram que a atividade física teve um efeito protetor contra a diabetes. No entanto, a maioria dos exercícios relatados possuía uma intensidade de quatro a cinco vezes maior que as recomendadas atualmente.

Apesar de os resultados apresentados favorecerem os exercícios mais intensos, também foi demonstrado em outros estudos uma diminuição do risco de diabetes gestacional em intensidades leves e moderadas (Dempsey et al., 2004).

Os relatos citados acima são baseados em observação de dados, o que torna difícil determinar o real efeito do exercício no controle da diabetes durante a gravidez. Apesar da confirmação dos efeitos positivos da atividade física no tratamento da diabetes gestacional, existem várias limitações, principalmente sobre os mecanismos fisiológicos, relacionadas à quantidade e intensidade ideal.

Referências

Dempsey JC, Sorensen TK, Williams MA, Lee IM, Miller RS, Dashow EE, et al. Prospective study of gestational diabetes mellitus risk in relation to maternal recreational physical activity before and during pregnancy. Am J Epidemiol 159:663-70. 2004.
Ferrão MHL, Pereira ACL, Gersgorin HCTS, et al. Efetividade do tratamento de gestantes hipertensas. Rev. Assoc. Med. Bras. 52 (6): 390-394. 2006.
Jiwani A, Marseille E, Lohse N, et al. Gestational diabetes mellitus: results from a survey of country prevalence and practices. J Matern Fetal Neonatal Med. 25(6):600–10. 2012.
Mudd LM. Health benefits of physical activity during pregnancy. Official Journal of the American College of Sports Medicine, 45(2):
268-277. 2013.
Oliveira CA, Lins CP, Sá RAM, Netto HC, et al. Síndromes hipertensivas da gestação e repercussões perinatais. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant. 6 (1): 93-98. 2006.
Roberts CL, Ford JB, Algert CS, et al. Population-based trends in pregnancy hypertension and pre-eclampsia: an international comparative study. BMJ Open. 1(1). 2011.
Roberts JM, Pearson GD, Cutler JA, Lindheimer MD. Summary of the NHLBI Working Group on Research on Hypertension during Pregnancy. Hypertens Pregnancy. 22(2):109–27. 2003
Sorensen TK, Williams MA, Lee I, Dashow EE, et al. Recreational Physical Activity During Pregnancy and Risk of Preeclampsia. Hypertension. (41): 1273-1280. 2003.
Tobias DK, Zhang C, van Dam RM, Bowers K, Hu FB. Physical activity before and during pregnancy and risk of gestational diabetes mellitus: a meta-analysis. Diabetes Care. 34(1):223–9. 2011.
Yeo S, Steele NM, Chang MC, Leclaire SL, Ronis DL, Hayashi R. Effect of Exercise on Blood Pressure in Pregnant Women with a High Risk of Gestational Hypertensive Disorders. J Reproductive Med. 45 (4): 293-298. 2000.

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