Busca pela (in)felicidade

Por Paulo Gentil

5 de setembro de 2002

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“Ninguém pode te impedir de ser feliz”, a idéia dessa frase otimista também pode ser transmitida através de uma construção sutilmente diferente e bem menos agradável: “ninguém pode te impedir de ser infeliz”. Tanto a felicidade quanto a infelicidade, dependem apenas da sua real vontade, do seu (livre?!?!?) arbítrio.Historicamente fomos educados a considerar normais os infortúnios e desconfiar de situações agradáveis, afinal “há males que vem para o bem” e “Deus escreve certo por linhas tortas”. Desde a Idade Média, o sofrimento e a abstenção dos prazeres são vistos como fatores que levam a proximidade de um estágio superior, ou simplesmente deixam-nos mais próximos do (tão sonhado) Paraíso. 

Dogmas religiosos nos levaram a crer que este mundo nada mais é que uma passagem sórdida e traiçoeira, sendo cada momento de prazer mundano equivalente a um passo para trás em nossa ascensão espiritual, uma prova disto é que invariavelmente as pessoas “hierarquicamente superiores” em espiritualidade são forçadas a se abster dos prazeres “terrenos” como: sexo, comida, convívio social e até mesmo sono. Desta forma, a infelicidade passou a ser sinônimo de proximidade divina, basta reparar nos retratos de personagens bíblicos: quantos deles estão sorrindo? Quando pensamos em Jesus, que imagem nos vem à cabeça: algum de seus momentos felizes ou sua agonizante imagem na cruz?

Este culto à infelicidade se arraigou em nosso subconsciente e nos podou a possibilidade de aproveitar um mundo maravilhoso feito especialmente para nós. Toda vez que estamos diante de um momento potencialmente agradável, tendemos a parar e questionar: será que isto está certo? Desde o mais simples cochilo no meio da tarde até uma relação sexual com a pessoa que gostamos são vistos como danosos.Quem disse que precisamos sofrer para ser felizes? Cada possibilidade de felicidade deve ser vivida com plenitude e responsabilidade, pois, como já dizia Cazuza “o tempo não para” e um momento de felicidade perdido, é simplesmente um momento de felicidade a menos em sua vida e, ao final do caminho quando você olhar para trás e fizer a soma destes momentos, pode ter certeza que ele fará falta.

Quem disse que há algo errado em ser feliz? Perdemos mais tempo questionando a validade de um momento agradável, que vivendo-o. Um momento de prazer, muitas vezes é realmente um momento de prazer, e não uma armadilha para atrair pessoas para o caminho do mal.

Isto não deve ser confundido com viver de maneira irresponsável ou se deixar guiar pelos instintos, implica apenas em aproveitar a vida e direcionar suas atitudes no sentido da felicidade, abandonando a tendência de buscar uma saída mais dolorosa para situações potencialmente agradáveis. Quando uma dessas situações aparecer caberá a você decidir que caminho seguirá: o da infelicidade ou da felicidade, seja qual for, você será o responsável e sofrerá as conseqüências desta escolha, portanto pense bem, e seja feliz!

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