É comum aos profissionais que trabalham com saúde e preparação física prescreverem o “condicionamento físico” aos seus alunos ou pacientes: “Daqui pra frente você terá que se comprometer com um programa de condicionamento físico para a manutenção da saúde!”, diz o médico; “Tenho como objetivo o condicionamento físico!”, exclama o aluno na academia. O intuito dessa e de outras frases similares pode ser o mesmo: a prática regular de exercícios físicos em busca de uma melhor qualidade de vida. O que realmente preocupa, é que o condicionamento físico em questão é o exercício aeróbio! Procuraremos entender o que é o condicionamento físico e quais suas peculiaridades.
Conceituação
Um conceito errôneo, permanece até os dias atuais condicionamento físico está vinculado apenas ao treinamento aeróbio.Existem academias e clínicas que ainda possuem fixada nas paredes do setor de esteiras e bicicletas ergométricas aquela placa: “Setor de condicionamento físico”.
Observem a conceituação básica sobre o tema (3):
· Atividade física: é qualquer forma de atividade muscular. Andar, fazer exercícios físicos, lavar louça. Enfim, o corpo se movimentando;
· Condicionamento físico: é a interação de várias valências físicas, visando o melhor funcionamento músculo-esquelético e metabólico do indivíduo. As principais valências físicas relacionadas são: força muscular, potência, resistência cardiovascular, resistência muscular localizada e flexibilidade;
· Exercício físico: é a atividade física planejada de forma a melhorar valência(s) física(s), contribuindo assim, com a melhora ou manutenção do condicionamento físico.
Falando em condicionamento físico, fica imperativo definir um item importante (2):
· Qualidade de vida: não existe um consenso fechado do que realmente seja qualidade de vida. Em um sentido geral, este conceito envolveria a saúde do indivíduo e sua interação com o meio (moradia, vida profissional, vida afetiva, sexual, situação financeira, lazer, relacionamento social, alimentação, etc). Nesse sentido, a felicidade em relação à própria existência, seria inerente à qualidade de vida. No quesito saúde biológica, fica explícito que a qualidade de vida tem sua aplicação voltada a indivíduos doentes ou em recuperação de alguma moléstia e na maneira como a adoção de mudanças de hábitos do cotidiano irá influenciar de forma positiva sua vida. Dessa forma, a conceituação de qualidade de vida se transcende a da saúde, pois vai mais além do que a simples limitação física: o modo de pensar em relação ao”eu” terá que ser mudado em benefício próprio e dos que o rodeiam.
Interações ente as valências físicas e o condicionamento físico
Primeiramente, devemos relembrar que o condicionamento físico voltado para a saúde é diferente do voltado à performance desportiva. O presente texto tem por objetivo informar como a melhor interação entre as valências físicas pode contribuir para o condicionamento físico e, conseqüentemente, para a saúde, ponto que pode ser utilizado por atletas competitivos, pois é de conhecimento geral, que na busca da excelência em um desporto, atletas e treinadores priorizam uma valência física, e, o impacto dessa “especialização” não é o melhor para a saúde ou mesmo, para a maior eficiência no gesto desportivo em questão (1).
Mitos antigos adotados por atletas e treinadores, como o de que o trabalho de força não contribui de forma positiva ao trabalho de endurance ou o trabalho de força resulta em perda da flexibilidade, não possuem nenhum embasamento científico. Muito pelo contrário, vários estudos demonstram que o intercâmbio planejado de várias ou das principais valências físicas, contribui na prevenção de lesões, na melhora do gesto desportivo, no maior controle da composição corporal e na recuperação físico-mental do indivíduo (1 4).
Para a população não-atleta segue a mesma recomendação: o treinamento deveria sempre constar de exercícios resistidos, exercícios de flexibilidade e de resistência aeróbia, justamente, devido ao sinergismo entre as valências físicas e suas contribuições para o organismo (1, 2, 3).
Considerações finais
Conforme descrito acima, foi sugerido que trabalhando apenas uma valência física, não se conseguirá o condicionamento físico global do indivíduo. Mas, e o atleta especialista em um tipo de valência? Nem sempre o melhor desempenho desportivo está relacionado à saúde ou ao condicionamento físico. Não existe incompatibilidade entre os componentes quando ocorre uma manipulação adequada entre todas as capacidades em questão. Todos, atletas e população comum, podem e devem se beneficiar praticando um treinamento sistêmico, englobando a totalidade do indivíduo. Esse modelo seria o condicionamento físico global: a busca da melhor qualidade de vida em todos os seus aspectos.
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Referências Bibliográficas
1. FLECK, S. J. & KRAEMER, W. J. – Fundamentos do Treinamento de Força Muscular – Editora Artmed. 2º edição, 1999;
2. GHORAYEB, N. & NETO, T. L. B. – O Exercício: Preparação Fisiológica, Avaliação Médica, Aspectos Especiais e Preventivos – Editora Atheneu, 1999;
3. POWERS, S. K. & HOWLEY, E. T. – Fisiologia do Exercício: Teoria e Aplicação ao Condicionamento e ao Desempenho – Editora Manole, 2000;
WEINECK, J. – Biologia do Esporte – Editora Manole, 2000.