Dismorfia muscular

Por Bruno Fischer

31 de maio de 2002

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Você provavelmente deve ter ouvido falar de pessoas preocupadas com a imagem corporal, que desenvolvem distúrbios alimentares como anorexia nervosa ou bulimia, porém um outro tipo de preocupação vem se mostrando muito comum. Trata-se da dismorfia muscular ou vigorexia, também denominada de anorexia reversa, é um tipo específico do já conhecido “distúrbio dismórfico corporal” (DDC). A categoria geral do DDC refere-se a uma preocupação excessiva com a imagem corporal, os seus portadores estão constantemente perturbados com uma coisa “terrivelmente errada” em sua aparência, quando de fato parecem ótimos perante os olhos dos outros. No DDC a preocupação pode estar relacionada com qualquer parte do corpo, cabelo, pele, nariz, altura etc… , porém na dismorfia muscular a preocupação ocorre apenas com os músculos. Os portadores da dismorfia muscular constantemente se acham fracos e magros, ainda que sejam fortes e musculosos. 

Apesar de ser mais comum nos homens, muitas mulheres tem desenvolvido essa síndrome. Uma celebridade que está em evidência na mídia, gerando vários comentários, e que provavelmente pode estar apresentando a dismorfia muscular é a modelo Joana Prado, a Feiticeira. A modelo era inspiração para a maioria das freqüentadoras de academia, desejada por milhares de homens, símbolo do corpo feminino perfeito. Pois é, parece que todo mundo achava isso menos ela própria. Nada parece justificar as transformações tão bruscas ocorridas em seu corpo, a não ser que ela agora queira participar de um concurso de fisiculturismo. A pessoa com dismorfia muscular apresenta um distúrbio obsessivo-compulsivo, e na tentativa de melhorar sua aparência, submete-se a excesso de treinamentos, preocupações abusivas com a alimentação e o pior de tudo, uso de esteróides anabolizantes. 

As fontes dessas obsessões musculares (dismorfia muscular) provavelmente compõem-se de três partes. Em primeiro lugar pode existir um componente biológico, ou seja, a pessoa já tem uma predisposição para desenvolver uma condição relacionada “distúrbio obsessivo-compulsivo”. O segundo provável componente é o psicológico, raízes obsessivas e compulsivas derivadas de experiências durante sua criação. E finalmente, acredita-se que a sociedade desempenha um poderoso e crescente papel na imposição de padrões estéticos, como condição de aceitação.

Mas por que estamos tão preocupados com a imagem corporal? 
Cada vez mais, somos cercados por imagens de perfeição corporal transmitida pela mídia. No cinema temos Arnold Schwarzenegger, Sylverster Stallone, Van Damme, nas revistas temos Feiticeira, Tiazinha, loiras e morenas de grupos de pagode, e para variar a televisão está repleta de modelos como Paulo Zulu, Alexandre Frota, Reinaldo Gyanechine. Todos com corpos esculpidos, e todas essas imagens estão fortemente relacionadas ao sucesso social, financeiro e sexual. 

A dismorfia muscular pode causar diversos problemas que vão desde o aspecto físico, com excesso de exercícios e abuso de suplementos e anabolizantes, até o aspecto psicológico, com afastamento do convívio social, podendo perder amigos, emprego e entrando em estado de depressão profunda. Quando se chega nesse ponto, a situação fica complicada, pois esta pessoa já se encontra num estágio avançado da doença, sendo necessário um tratamento psicológico, e muitas vezes é necessário o uso de medicamentos anti-depressivos como a fluoxetina. Provavelmente muitos de nós conhecemos pessoas nessa situação, totalmente insatisfeitas com algo em sua aparência física, e todos nós, no fundo, temos vontade de melhorar alguma coisa em nosso corpo. A busca por algo melhor é saudável a partir do momento que temos a consciência de nossos limites. E nosso corpo tem um limite herdado, chamado genética.

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