Esteróides anabólicos androgênicos – Uso e consequencias II

Por Carlos Magno

30 de agosto de 2002

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Quanto aos efeitos colaterais dos E.A.A., poucos estudos foram ministrados e, em sua grande maioria, foram realizados em relação a patologias e em animais. As dosagens utilizadas nos estudos também são muito inferiores daquelas que são utilizadas no dia-a-dia de atletas competitivos e recreativos. Os efeitos que os estudos mostraram ter realmente uma comprovação científica são:

Diminuição do HDL (o colesterol “bom”): como esta lipoproteína ajuda a remover as placas de gordura que podem vir a obstruir o vaso sanguíneo, sua diminuição pode propiciar o surgimento da aterosclerose (alterações do revestimento das artérias e o acúmulo de placas de gordura, levando a um estreitamento progressivo das artérias) e assim, aumentar as chances do indivíduo de sofrer um A.V.C. (acidente vascular cerebral) ou uma coronariopatia, por exemplo, (KOURI et al, 1996; PALATINI et al, 1996; YEATER et al, 1996; DICKERMAN et al, 1997; LIPPI et al, 1997; I-IGO et al, 2000 e CASTELO BRANCO et al 2000 apud GENTIL, 2001; 

Lesões ligamentares: devido ao aumento da força muscular tanto por fatores psicológicos, quanto fisiológicos, as estruturas que fixam os músculos ao ossos não acompanham esse crescimento e podem sofrer rupturas; 
Atrofia testicular e esterilidade: De acordo com BRONSON et al, apud GENTIL (2001), esse efeito é inevitável, até mesmo com doses mais baixas, mas parece ser reversível. SALZANO JR. (199!) relata o surgimento de oligospermia (pequena quantidade de esperma) e ozoospermia (falta completa de esperma no sêmen); 
Acne e calvície: esse efeitos estão relacionados na transformação da testosterona e DHT (dihidrotestosterona – andrógeno conseguido através da conversão de testosterona em certos tecidos periféricos, embora, exista evidência de pequena secreção glandular), responsável por ocorrência de cabelo facial, calvície genética, crescimento da próstata e o desenvolvimento do órgão sexual masculino. 

E.A.A. derivados da DHT (metenolona {Primobolan}) comprovadamente aumentam a taxa de queda de cabelos. Estudos ainda mostraram que atletas femininas portadoras de acne, o nível da enzima 5-alfa-redutase (cataliza a transformação da testosterona em DHT) é muito alto. A pele com acne possui 20 vezes mais DHT do que a pele normal. Isso explica como essa enzima serve como amplificador da ação androgênica (responsável pelos caracteres masculinos); 

Masculinização: Devido as propriedades androgênicas (e dependendo do potencial androgênico) dos E.A.A. ministrados: agravamento da voz, hirsutismo (crescimento anormal dos pelos, irreversível nas mulheres); ereções freqüentes e doloridas (priapismo) e hipertrofia do clitóris (irreversível); 
Ginecomastia: os estrógenos são responsáveis pela maioria dos atributos da feminilidade. São produzidos principalmente pelos testículos e ovários e quando ocorre uma ação excessiva destes em combinação com uma ação androgênica reduzida (aromatização, que é o desequilíbrio entre a relação andrógeno / estrógeno, produzindo efeitos feminilizantes no homem), ocorre a ginecomastia (formação de tecido mamário discernível no corpo masculino). Homens que apresentam esse problema, ao procurar um médico, são tratadas com DHT combinado com um antiestrógeno ou são submetidas a uma cirurgia plástica. 

Estudos relacionados aos efeitos adversos sobre os sistemas cardiovascular e hepático divergem: PALATINI (1996), YEATER (1996) e VILANUEVA et al (1999) e DICKERMAN et al (1997) apud GENTIL (2001), não encontraram anomalias em ecocardiogramas, na pressão arterial e no comprometimento das funções cardíacas e nos fatores enzimáticos relacionados ao fígado comparando fisiculturistas e levantadores de peso usuários de E.A.A. com não-usuários. SALZANO JR. (1991) cita a associação de surgimento de hepatite peliótica (cistos cheios de sangue dentro do fígado e de etiologia desconhecida) e tumores hepáticos ao uso de E.A.A. No sistema reprodutor feminino, relata inibição da ovulação e mudanças no ciclo menstrual, devido diminuição dos níveis circulatórios do hormônio luteinizante, do folículo-luteinizante, estrógenos e progesteronas. 

Relacionando o uso de E.A.A. e efeitos sobre o estado psicológico do indivíduo, segundo SALZANO JR. (1991), não se pode afirmar que o uso de E.A.A. pode vir a aumentar a agressividade e a irritabilidade: o comportamento de uma pessoa é muito mais que apenas uma concentração maior de testosterona no sangue. BAHRKE (1996) apud GENTIL (2001) confirma essa hipótese, afirmando a importância de levar em consideração o perfil psicológico do indivíduo. SUSMAN et al (1998), apud GENTIL (2001) concluiu que o uso de esteróides (derivados de testosterona em homens e estrogênio em mulheres) tinham efeitos mínimos nas alterações do humor.

Mesmo com todas essas teorias, a utilização de E.A.A. deve ser evitada, justamente por não se conhecerem todos os efeitos colaterais e as causas a longo prazo do uso dessas substâncias. Algumas pessoas podem desenvolver problemas com o uso de recursos farmacológicos (não só E.A.A., mas, de aspirina e Tylenol) e outras nunca desenvolverão problema algum. Mas, como saber se essa possibilidade irá ocorrer? Existe ainda o preconceito ao tratar deste assunto: fisiculturistas (ou até mesmo praticantes de musculação, não-usuários de E.A.A.) são taxados como impotentes sexuais e truculentos, portadores de lesões no fígado e narcisistas. Já alguns atletas de outros esportes (triatlon, maratona), submetem seu corpo a treinos alucinantes, as vezes sofrem anorexia e são aclamados como exemplo pela sociedade. A desinformação é o pior tipo de preconceito.

Como descrito no primeiro parágrafo, esse artigo não defende o uso de E.A.A e outras drogas para melhorar a aparência ou alcançar títulos em competições: apenas informar um pouco mais sobre esse assunto tão polêmico, e quem sabe, incentivar o estudo nessa área, para que com isso, voltemos a praticar exercícios físicos para a construção de um corpo sadio e uma mente sã, sem nos preocuparmos com problemas que possam surgir por tentarmos mudar o curso natural das coisas.

Referências Bibliográficas

COSTILL, D. L. & WILMORE, J. H. Fisiologia do esporte e do exercício, 2° edição, Editora Manole, 2002;
GENTIL, P. R. V. Efeitos (a verdade), www.paulogentil.hpg.com.br (site desativado – artigo à disposição de interessados), (2001);
REVISTA MUSCLE IN FORM, págs. 30 – 31, 2002;
SALZANO JR., I. Drogas no esporte e testes antidoping. Probiótica – divisão editorial, 1991.

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