Óleo de semente de linhaça (Flaxseed oil)

Por Paulo Gentil

31 de maio de 2002

Atualmente tem ocorrido grande interesse pelos potenciais benefícios dos óleos de sementes, o que se deve principalmente à sua grande quantidade de ácidos graxos poli-insaturados. 

O óleo de semente de linhaça (flaxseed) não foge à regra, ele contém grandes quantidades de ácido linoleico e alfa linoléico, este (um Omega-3) pode ser transformado em ácido eicosapentanóico, um ácido graxo encontrado nos peixes, que se converte em prostaglandinas benéficas. O óleo de semente de linhaça também tem algumas aplicações comprovadas, como: tratamento de colesterol alto (CHAN et al, 1991; DEMARK-WAHNFRIED et al, 2001), hipertensão (SINGER et al, 1990) e constipação. Porém, a semente de linhaça não se mostrou tão eficiente quanto os óleos de peixe, no tratamento das seguintes condições patológicas: inflamações, artrite (NORDSTROM et al, 1995), doenças cardíacas, altos níveis de triglicérides (KELLEY et al, 1993; ABBEY et al, 1990) e agregação plaquetária (WENSING et al, 1999).  

Nas academias 

Muitos praticantes de musculação acrescentam óleo de semente de linhaça em sua dieta na esperança de elevar as concentrações de testosterona e aumentar seus resultados com o treinamento, fato ainda não comprovado em seres humanos. 

Em um estudo realizado na Universidade de Minnesota, o grupo liderado por HUTCHINS usou doses de até 10 gramas do óleo em mulheres pós-menopáusicas e não encontrou diferenças significativas nas concentrações de testosterona, nem em nenhum de seus precursores (HUTCHINS et al, 2001). No mesmo ano, DEMARK-WAHNFRIED et al, realizaram um estudo piloto com 25 homens portadores de câncer de próstata. A intervenção consistia em uma dieta baixa em gordura e suplementada com óleo de semente de linhaça (30 mg/dia) e as taxas de testosterona caíram para 85% dos valores pré-tratamento, ou seja, a suplementação promoveu queda no níveis do hormônio, um resultado inverso do pretendido pelos malhadores. O estudo de DEMARK-WAHNFRIED, porém, não trouxe somente más notícias, os autores verificaram alguns resultados positivos como: redução nos níveis de colesterol e tendência a atenuar a proliferação do tumor. 

Quando a amostra é composta de animais, os resultados ainda são controversos, um estudo em ratos mostrou que o uso de óleo de semente de linhaça, pode ter efeitos antagônicos, subindo ou descendo os níveis hormonais, dependendo do tempo de uso e da dose (TOU et al, 1999). 

Concluindo

O uso deste suplemento por praticantes de atividades físicas com o intuito de obter melhoras na performance e/ou estética é muito questionável, por mais que se consiga fazer suposições lineares, as substâncias produzem resultados inesperados e até antagônicos em seres vivos. Desta forma o uso do óleo de semente de linhaça não seria recomendado, pois além de não trazer resultados comprovados, pode prejudicar seu sistema endócrino.   

Referencias bibliográficas

ABBEY M, CLIFTON P, KESTIN M, et al. Effect of fish oil on lipoproteins, lecithin: cholesterol acyltransferase, and lipid transfer protein activity in humans. Arterioscler 1990;10:85–94. 

CHAN JK, BRUCE VM, MCDONALD BE. Dietary a-linolenic acid is as effective as oleic acid and linoleic acid in lowering blood cholesterol in normolipidemic men. Am J Clin Nutr 1991;53:1230–4.

DEMARK-WAHNEFRIED W, PRICE DT, POLASCIK TJ, ROBERTSON CN, ANDERSON EE, PAULSON DF, WALTHER PJ, GANNON M, VOLLMER RT. Pilot study of dietary fat restriction and flaxseed supplementation in men with prostate cancer before surgery: exploring the effects on hormonal levels, prostate-specific antigen, and histopathologic features. Urology 2001 Jul;58(1):47-52. 

HUMFREY CD Phytoestrogens and human health effects: weighing up the current evidence. Nat Toxins 1998;6(2):51-9.

HUTCHINS AM, MARTINI MC, OLSON BA, THOMAS W, SLAVIN JL. Flaxseed consumption influences endogenous hormone concentrations in postmenopausal women. Nutr Cancer 2001;39(1):58-65. 

KELLEY DS, NELSON GJ, LOVE JE, et al. Dietary a-linolenic acid alters tissue fatty acid composition, but not blood lipids, lipoproteins or coagulation status in humans. Lipids 1993;28:533–7. 

NORDSTROM DC, HONKANEN VE, NASU Y, et al. Alpha-linolenic acid in the treatment of rheumatoid arthritis. A double-blind, placebo-controlled and randomized study: flaxseed vs. safflower seed. Rheumatol Int 1995;14:231–4. 

RICE RD. Mediterranean diet. Lancet 1994;344;893–4 [letter]. 

SINGER P, JAEGER W, BERGER I, et al. Effects of dietary oleic, linoleic and a-linolenic acids on blood pressure, serum lipids, lipoproteins and the formation of eicosanoid precursors in patients with mild essential hypertension. J Human Hypertension 1990;4:227–33. 

TOU JC, CHEN J, THOMPSON LU. Dose, timing, and duration of flaxseed exposure affect reproductive indices and sex hormone levels in rats. J Toxicol Environ Health A 1999 Apr 23;56(8):555-70. 

WENSING AGCL, MENSINK RP, HORNSTRA G. Effects of dietary n-3 polyunsaturated fatty acids from plant and marine origin on platelet aggregation in healthy elderly subjects. Br J Nutr 1999;82:183–91.

Artigos Relacionados