Ossos: meios para promover a saúde do nosso esqueleto

Por Carlos Magno

29 de março de 2003

Há pouco mais de vinte anos, pesquisadores constataram que atletas competitivos freqüentemente apresentavam fraturas. Desde então, pesquisas foram direcionadas visando observar a densidade mineral óssea (DMO) em atletas e indivíduos não-competidores, objetivando traçar a melhor estratégia para evitar o “desgaste” ósseo e entender melhor a interação nutrição-exercício em um processo preventivo.

Para maior compreensão, os ossos são constituídos por aproximadamente 50% de água, elementos celulares (osteoblastos, osteoclastos e osteócitos, todos desempenhando papel importante na construção e reabsorção óssea), fibrilas colágenas e diversos sais, sendo os principais: fosfato de cálcio, carbonato de cálcio e fosfato de magnésio, encontrando-se ainda cálcio, potássio e sódio com cloro e flúor (Balsamo, 2002 e Platzer et al., 1988).

Segundo Bloomfield (2002), a DMO é a quantidade mineral em uma determinada área de tecido ósseo. É relacionada diretamente com a resistência óssea. Dependendo desta quantidade óssea, é possível diagnosticar dois tipos das osteopatias mais conhecidas:

Osteoporose: é a diminuição do conteúdo mineral ósseo, provocando com isso, aumento da porosidade óssea (Wilmore & Costill, 2001). Taxas que demonstrem um decréscimo da DMO acima de 2,5%, comparadas com valores encontrados em adultos jovens saudáveis, clinicamente já são consideradas como um quadro de osteoporose (Bloomfield, 2002); 
Osteopenia: é o momento no qual o processo degenerativo da massa óssea se encontra em valores menores que os determinados para o quadro de osteoporose, porém, nunca superior a 16% dos valores encontrados em idosos (Bloomfield, 2002). 
Como é observado acima, se não forem tomadas medidas paliativas, um quadro osteopênico pode vir a tornar-se um quadro osteoporótico, e para evitar isso, deve-se seguir os tópicos citados a seguir: aumentar a mineralização óssea do osso até os trinta anos e diminuir a velocidade de reabsorção óssea posterior a este período, evitando com isso as temidas fraturas em idade mais avançada (Bloomfield, 2002).

Outros fatores influenciam no surgimento de uma DMO abaixo do normal: deficiência na produção dos hormônios ligados à calcificação e reabsorção óssea (fenômeno comum entre mulheres na menopausa, atletas com percentuais de gordura corporal abaixo de níveis saudáveis e homens na andropausa), utilização de glicocorticóides, devido processos infecciosos e utilização de contraceptivos orais (Lukert, 1999; Burr et al., 2000; Weaver et al., 2001, apud Bloomfield, 2002).

Os estudos mais recentes correlacionam a importância da nutrição e do exercício como principais fatores preventivos ao decréscimo da massa óssea, principalmente quando são adotados hábitos saudáveis desde a infância e puberdade. Cerca de 30% da massa óssea é formada nos três anos que cercam a puberdade (Bailey et al., 1996, apud Bloomfield, 2002). Atividades físicas vigorosas praticadas nos anos que precedem a adolescência aumentam significativamente a massa óssea quando são comparados adolescentes praticantes e não-praticantes de exercícios físicos, principalmente atividades de alto impacto (ginástica, voleibol), com sobrecarga de trabalho e com rápidas e freqüentes mudanças de direção, como o tênis (Bailey et al., 1999; Bradney et al., 1998; Morris, 1997, apud Bloomfield, 2002).

Quando falamos em qual a melhor atividade física para a prevenção da diminuição da DMO, surgem defensores de todas as vertentes:

O exercício resistido, ou como comumente é conhecido, exercícios com pesos, aumentam a tensão muscular, o coeficiente de tensão e compressão, fazendo com que tendões e ligamentos se fortaleçam e assim promovam um efeito trófico ou osteogênico (formador de osso) sobre as cartilagens articulares (Santarém, 1999, apud Ghorayeb & Barros, 1999; Conroy et al., 1992, apud Fleck & Kraemer, 1999). Vários estudos já demonstraram que os levantadores de potência possuem DMO maior de do que outros desportistas de diferentes esportes, possivelmente devido a uma adaptação para tolerar as tensões geradas por contrações musculares intensas durante o treinamento com pesos, sempre em regiões estimuladas pela sobrecarga gravitacional (região lombar, cabeça do fêmur), (Santarém, 1999, apud Ghorayeb & Barros, 1999; Conroy et al., 1993, apud Fleck & Kraemer, 1999; Mcardle et al., 1998 e Orwoll et al., 1989, apud Balsamo, 2002).

Já atividades aeróbias de baixo impacto, como a caminhada de baixa intensidade e hidroginástica, também são indicadas por proporcionarem pouco risco de queda, principalmente para portadores de desmineralização óssea em estado avançado (Campion, 2000, apud Balsamo, 2002). Para estes indivíduos, ainda é necessário um acompanhamento mais detalhado, com exames periódicos de densitometria óssea, devido à possibilidade de ocorrência de lesão na coluna cervical, mesmo com exercícios sem impacto e também em movimentos de flexão do tronco (Bloomfield & Smith, no prelo 2001 apud Bloomfield, 2002). Se o trabalho tiver uma característica de esforços curtos de alta intensidade ou esforços moderados de longa duração, o efeito osteogênico parece ser maximizado. O contrário também é verdadeiro: atividades muito suaves ou sem ação da gravidade não ou pouco produzem aumento significativo na massa óssea (Santarém, 1999, apud Ghorayeb & Barros, 1999; Bravo et al., 1997, apud Balsamo, 2002).

Quanto à nutrição, as melhores fontes de cálcio estão nos laticínios e vegetais verdes folhosos. As quantidades recomendadas para adultos são: 800 mg para homens e 1.200 mg para mulheres (Kleiner & Greenwood-Robinson, 2002). A suplementação de cálcio é encontrada em várias formas: citrato de cálcio, lactato de cálcio e carbonato de cálcio (pessoas com problemas na produção de ácido gástrico, devem suplementar este último durante as refeições), preferencialmente entre as refeições. Mas a melhor maneira de adquirir o cálcio é através da ingestão de alimentos (Bloomfield, 2002 e Kleiner & Greenwood-Robinson, 2002).

Como ainda não é conhecido o mecanismo exato de como o estilo de vida mais ativo possa influenciar positivamente na manutenção e prevenção da degeneração óssea, o consenso geral é: exercícios físicos desde tenra idade, incluindo vários tipos de movimentos, de forma moderada à vigorosa. Para os já portadores de osteopatia, o benefício do exercício físico é igual a da população citada acima, tomando o cuidado de incorporar atividades compatíveis ao grau da desmineralização óssea, evitando as possíveis e indesejadas fraturas e uma ingestão adequada de fontes alimentícias que forneçam cálcio apropriadamente.

Referências Bibliográficas

BALSAMO, S. A influência da Musculação e da Hidroginástica na Densidade Mineral Óssea.- Dissertação de Mestrado em Educação Física – Universidade Católica de Brasília, 2002;
BLOOMFIELD, S. A. Cuidando da saúde dos osso: impacto da nutrição dos exercícios e dos hormônios. – Gatorade Sports Science Institute nº 33 – 2002;
FLECK, S. J. & KRAEMER, W. J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 2º Edição – EditoraArtmed, 1999;
GHORAYEB, N. & BARROS, T. O exercício: preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos. – Atheneu Editora, 1999;
KLEINER, S. M & GREENWOOD-Robinson, M. Nutrição para o treinamento de força. – Editora Manole, 2002;
PLATZER, W., LEONAHARDT, H. & KAHLE. W. Atlas de anatomia humana – Volume 01 – 3º Edição – Atheneu Editora, 1988;
WILMORE, J. H. & COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício.- 2º Edição – Editora Manole, 2001;
http://saudetotal.com/saude/musvida/porose.htm

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