Há pouco mais de vinte anos, pesquisadores constataram que atletas competitivos freqüentemente apresentavam fraturas. Desde então, pesquisas foram direcionadas visando observar a densidade mineral óssea (DMO) em atletas e indivíduos não-competidores, objetivando traçar a melhor estratégia para evitar o “desgaste” ósseo e entender melhor a interação nutrição-exercício em um processo preventivo.
Para maior compreensão, os ossos são constituídos por aproximadamente 50% de água, elementos celulares (osteoblastos, osteoclastos e osteócitos, todos desempenhando papel importante na construção e reabsorção óssea), fibrilas colágenas e diversos sais, sendo os principais: fosfato de cálcio, carbonato de cálcio e fosfato de magnésio, encontrando-se ainda cálcio, potássio e sódio com cloro e flúor (Balsamo, 2002 e Platzer et al., 1988).
Segundo Bloomfield (2002), a DMO é a quantidade mineral em uma determinada área de tecido ósseo. É relacionada diretamente com a resistência óssea. Dependendo desta quantidade óssea, é possível diagnosticar dois tipos das osteopatias mais conhecidas:
Osteoporose: é a diminuição do conteúdo mineral ósseo, provocando com isso, aumento da porosidade óssea (Wilmore & Costill, 2001). Taxas que demonstrem um decréscimo da DMO acima de 2,5%, comparadas com valores encontrados em adultos jovens saudáveis, clinicamente já são consideradas como um quadro de osteoporose (Bloomfield, 2002);
Osteopenia: é o momento no qual o processo degenerativo da massa óssea se encontra em valores menores que os determinados para o quadro de osteoporose, porém, nunca superior a 16% dos valores encontrados em idosos (Bloomfield, 2002).
Como é observado acima, se não forem tomadas medidas paliativas, um quadro osteopênico pode vir a tornar-se um quadro osteoporótico, e para evitar isso, deve-se seguir os tópicos citados a seguir: aumentar a mineralização óssea do osso até os trinta anos e diminuir a velocidade de reabsorção óssea posterior a este período, evitando com isso as temidas fraturas em idade mais avançada (Bloomfield, 2002).
Outros fatores influenciam no surgimento de uma DMO abaixo do normal: deficiência na produção dos hormônios ligados à calcificação e reabsorção óssea (fenômeno comum entre mulheres na menopausa, atletas com percentuais de gordura corporal abaixo de níveis saudáveis e homens na andropausa), utilização de glicocorticóides, devido processos infecciosos e utilização de contraceptivos orais (Lukert, 1999; Burr et al., 2000; Weaver et al., 2001, apud Bloomfield, 2002).
Os estudos mais recentes correlacionam a importância da nutrição e do exercício como principais fatores preventivos ao decréscimo da massa óssea, principalmente quando são adotados hábitos saudáveis desde a infância e puberdade. Cerca de 30% da massa óssea é formada nos três anos que cercam a puberdade (Bailey et al., 1996, apud Bloomfield, 2002). Atividades físicas vigorosas praticadas nos anos que precedem a adolescência aumentam significativamente a massa óssea quando são comparados adolescentes praticantes e não-praticantes de exercícios físicos, principalmente atividades de alto impacto (ginástica, voleibol), com sobrecarga de trabalho e com rápidas e freqüentes mudanças de direção, como o tênis (Bailey et al., 1999; Bradney et al., 1998; Morris, 1997, apud Bloomfield, 2002).
Quando falamos em qual a melhor atividade física para a prevenção da diminuição da DMO, surgem defensores de todas as vertentes:
O exercício resistido, ou como comumente é conhecido, exercícios com pesos, aumentam a tensão muscular, o coeficiente de tensão e compressão, fazendo com que tendões e ligamentos se fortaleçam e assim promovam um efeito trófico ou osteogênico (formador de osso) sobre as cartilagens articulares (Santarém, 1999, apud Ghorayeb & Barros, 1999; Conroy et al., 1992, apud Fleck & Kraemer, 1999). Vários estudos já demonstraram que os levantadores de potência possuem DMO maior de do que outros desportistas de diferentes esportes, possivelmente devido a uma adaptação para tolerar as tensões geradas por contrações musculares intensas durante o treinamento com pesos, sempre em regiões estimuladas pela sobrecarga gravitacional (região lombar, cabeça do fêmur), (Santarém, 1999, apud Ghorayeb & Barros, 1999; Conroy et al., 1993, apud Fleck & Kraemer, 1999; Mcardle et al., 1998 e Orwoll et al., 1989, apud Balsamo, 2002).
Já atividades aeróbias de baixo impacto, como a caminhada de baixa intensidade e hidroginástica, também são indicadas por proporcionarem pouco risco de queda, principalmente para portadores de desmineralização óssea em estado avançado (Campion, 2000, apud Balsamo, 2002). Para estes indivíduos, ainda é necessário um acompanhamento mais detalhado, com exames periódicos de densitometria óssea, devido à possibilidade de ocorrência de lesão na coluna cervical, mesmo com exercícios sem impacto e também em movimentos de flexão do tronco (Bloomfield & Smith, no prelo 2001 apud Bloomfield, 2002). Se o trabalho tiver uma característica de esforços curtos de alta intensidade ou esforços moderados de longa duração, o efeito osteogênico parece ser maximizado. O contrário também é verdadeiro: atividades muito suaves ou sem ação da gravidade não ou pouco produzem aumento significativo na massa óssea (Santarém, 1999, apud Ghorayeb & Barros, 1999; Bravo et al., 1997, apud Balsamo, 2002).
Quanto à nutrição, as melhores fontes de cálcio estão nos laticínios e vegetais verdes folhosos. As quantidades recomendadas para adultos são: 800 mg para homens e 1.200 mg para mulheres (Kleiner & Greenwood-Robinson, 2002). A suplementação de cálcio é encontrada em várias formas: citrato de cálcio, lactato de cálcio e carbonato de cálcio (pessoas com problemas na produção de ácido gástrico, devem suplementar este último durante as refeições), preferencialmente entre as refeições. Mas a melhor maneira de adquirir o cálcio é através da ingestão de alimentos (Bloomfield, 2002 e Kleiner & Greenwood-Robinson, 2002).
Como ainda não é conhecido o mecanismo exato de como o estilo de vida mais ativo possa influenciar positivamente na manutenção e prevenção da degeneração óssea, o consenso geral é: exercícios físicos desde tenra idade, incluindo vários tipos de movimentos, de forma moderada à vigorosa. Para os já portadores de osteopatia, o benefício do exercício físico é igual a da população citada acima, tomando o cuidado de incorporar atividades compatíveis ao grau da desmineralização óssea, evitando as possíveis e indesejadas fraturas e uma ingestão adequada de fontes alimentícias que forneçam cálcio apropriadamente.
Referências Bibliográficas
BALSAMO, S. A influência da Musculação e da Hidroginástica na Densidade Mineral Óssea.- Dissertação de Mestrado em Educação Física – Universidade Católica de Brasília, 2002;
BLOOMFIELD, S. A. Cuidando da saúde dos osso: impacto da nutrição dos exercícios e dos hormônios. – Gatorade Sports Science Institute nº 33 – 2002;
FLECK, S. J. & KRAEMER, W. J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 2º Edição – EditoraArtmed, 1999;
GHORAYEB, N. & BARROS, T. O exercício: preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos. – Atheneu Editora, 1999;
KLEINER, S. M & GREENWOOD-Robinson, M. Nutrição para o treinamento de força. – Editora Manole, 2002;
PLATZER, W., LEONAHARDT, H. & KAHLE. W. Atlas de anatomia humana – Volume 01 – 3º Edição – Atheneu Editora, 1988;
WILMORE, J. H. & COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício.- 2º Edição – Editora Manole, 2001;
http://saudetotal.com/saude/musvida/porose.htm