Pró-homonios I

Por Paulo Gentil

8 de junho de 2002

Antes de iniciar a leitura, é bom lermos esta resumida seqüência de reações que levam a produção da testosterona:

Colesterol => Pregnenolona => DHEA => Androstenediona => Testosterona 

A partir deste quadro vemos que o processo de produção da testosterona começa com o colesterol, passando pela pregnolona, pelo DHEA (dehidroepiandrosterona) e por último androstenediona, ou seja, para que se chegue a produção do principal hormônio sexual masculino passamos por outros hormônios, chamados precursores. Recentemente houve uma redescoberta destes precursores da testosterona, notadamente o DHEA e a androstenediona, e passou-se a vende-los como alternativas aos esteróides anabólicos, prometendo efeitos positivos sem os temidos efeitos colaterais.

O que me impressiona é o fato disto ser apresentado como novidade. A androstenediona foi sintetizada pela primeira vez em 1935 e no ano seguinte Charles Kochakain revelou seus efeitos anabólicos e androgênicos em cachorros castrados, mas houve dois problemas com a pesquisa: os efeitos foram muito menores que os da testosterona, e ainda por cima foram temporários (além é claro de terem sido verificados em cachorros castrados). Parece que os atletas da antiga Alemanha Oriental, já usavam androstenediona nos anos 70, na forma de um spray nasal utilizado antes das competições, o que levaria as taxas de testosterona a cair rapidamente a níveis “seguros” nos testes anti-doping.

O mundo esportivo influenciou bastante o uso destas substância, talvez a grande procura atual pela androstenediona deva-se ao astro de beisebol Mark McGwire ter afirmado que a usou durante sua trajetória ao recorde de home-runs. (muitos de nós não sabemos quem é este atleta, muitos nem ao menos jogaram beisebol, mas como somos “colonizados” pelos americanos, sofremos a influência indireta que esta afirmação causou naquele país).

O problema do uso de precursores da testosterona é que a cascata de reações não é tão linear nem unidirecional como a do quadro, na “vida real” ela sofre influências de diversas enzimas que podem interromper seu andamento ou até mesmo mudar seu rumo, formando hormônios femininos. E mesmo que uma parte dos “pró-hormônios” seja convertida em testosterona, alguém já se perguntou o que aconteceria com o resto? Ou se esta pequena conversão em testosterona seria significativa para os resultados esperados? Outro problema é que os efeitos colaterais significativos dos esteróides androgênicos (alteração nas taxas de colesterol – alta no LDL e baixa de HDL – acne, ginecomastia…), também podem ser encontrados com estes suplementos, mesmo na ausência de resultados positivos.

Pesquisas

O primeiro hormônio precursor da testosterona a ganhar popularidade foi o DHEA, porém logo sua atenção foi retirada devido a ausência dos efeitos prometidos, mas ainda hoje você pode encontrar muitos potes dele em prateleiras de lojas “especializadas” e farmácias.

Realmente este hormônio se mostrou eficaz em pessoas com distúrbio hormonais, como em mulheres após a menopausa, conforme verificado por LABRIE et al (1998), RUBINO et al (1998) e STOMATI et al (1999). Em situações clínicas o DHEA pode ser usado também para combater acumulo excessivo de gordura e resistência insulina (HAN et al, 1997, HANSEN et al, 1997)

Mas em jovens saudáveis os resultados foram realmente desanimadores, sendo verificado há mais de uma década que o DHEA não é um fator importante no metabolismo protéico (WELLE et al, 1990). Em 1999, BROWN participou de um estudo que envolveu 10 jovens praticantes de musculação aos quais foram administradas 50 mg diárias de DHEA, como resultado as concentrações de andorstenediona aumentaram 150% dentro de uma hora, o que não se refletiu em aumento da quantidade de testosterona nem em adaptações positivas com treino de força.

No momento, o precursor da mais badalado é a androstenediona, que como vimos se encontram um passo a frente do DHEA na cadeia de produção de testosterona, mas … (vejaa segunda parte)

Referências Bibliográficas

BROWN GA, VUKOVICH MD, SHARP RL, REIFENRATH TA, PARSONS KA, KING DS. Effect of oral DHEA on serum testosterone and adaptations to resistance training in young men. J Appl Physiol 1999 Dec;87(6):2274-83. 
HAN DH, HANSEN PA, CHEN MM, HOLLOSZY JO. DHEA treatment reduces fat accumulation and protects against insulin resistance in male rats. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 1998 Jan;53(1):B19-24. 
HANSEN PA, HAN DH, NOLTE LA, CHEN M, HOLLOSZY JO. DHEA protects against visceral obesity and muscle insulin resistance in rats fed a high-fat diet. Am J Physiol 1997 Nov;273(5 Pt 2):R1704-8. 
LABRIE F, BELANGER A, LUU-THE V, LABRIE C, SIMARD J, CUSAN L, GOMEZ JL, CANDAS B. DHEA and the intracrine formation of androgens and estrogens in peripheral target tissues: its role during aging. Steroids 1998 May-Jun;63(5-6):322-8 
RUBINO S, STOMATI M, BERSI C, CASAROSA E, LUISI M, PETRAGLIA F, GENAZZANI AR. Neuroendocrine effect of a short-term treatment with DHEA in postmenopausal women. Maturitas 1998 Jan 12;28(3):251-7.
STOMATI M, RUBINO S, SPINETTI A, PARRINI D, LUISI S, CASAROSA E, PETRAGLIA F, GENAZZANI AR. Endocrine, neuroendocrine and behavioral effects of oral dehydroepiandrosterone sulfate supplementation in postmenopausal women. Gynecol Endocrinol 1999 Feb;13(1):15-25 
WELLE S, JOZEFOWICZ R, STATT M. Failure of dehydroepiandrosterone to influence energy and protein metabolism in humans. J Clin Endocrinol Metab 1990 Nov;71(5):1259-64.

Artigos Relacionados