Revolução Industrial – Um marco para a “Revolução dos Movimentos”.

Por Administrador

6 de setembro de 2004

Teria a Revolução Industrial propiciado um ganho positivo na evolução dos movimentos humanos?

Bem, antes de tudo, precisamos saber o que foi “essa tal de revolução: voltemos a 1760 na Inglaterra, país que mais acumulou riquezas na Era do Capitalismo Comercial durante a Idade Moderna, já possuía um sólido sistema bancário e disponibilidade de matérias-primas como ferro e carvão. Inicia-se neste país modificações tão profundas, merecidas de serem denominadas revolucionárias, pois transformaram radicalmente a estrutura social, econômica e política européia. Um período de rápido progresso técnico, as invenções se sucederam favorecendo a aceleração do ritmo de produção. Esta evolução tecnológica acarretou mudanças profundas nos setores comercial e agrícola, mas acima de tudo, foi responsável por diversas transformações sociais.

As mudanças sociais rebatem de início ao catolicismo da Idade Moderna que determinava ao homem do ocidente um comportamento rígido e o banimento do corpo ao plano secundário. Essas tendências começaram a ser contestadas pela Reforma Protestante, que deslocou a conquista do prazer de um plano metafísico para a rigidez de um comportamento adequado ao trabalho árduo ao longo da vida terrena, em particular o Calvinismo e Puritanismo. Também influenciou o êxodo rural, os camponeses saiam de suas terras atraídos pelas ofertas de emprego e iam aos milhares para a cidade onde viviam sem as mínimas condições de saúde e higiene.

A mudança de mentalidade fez aumentar o número de cientistas e experiências mecânicas. “A cabala, a astrologia, magia e alquimia foram substituídas pelos experimentos científicos do estudo das inquietações do homem através do experimentalismo das ciências exatas”. (Vicentino).

Com a transformação dos pensamentos religiosos, econômicos e políticos que já se fazia presente diante da população inglesa, e assim já se preparava para as mudanças de vida, a Inglaterra se tornou o “berço” dessa revolução.

*Mas, quais foram às conseqüências à biomecânica humana?

A força e a energia animal, inclusive humana, predominavam na produção e transporte de riquezas, com a Revolução Industrial veio uma menor exigência e empenho do corpo humano que começou a ser afastado paulatinamente da predominância no labor físico e na locomoção. Pouco a pouco, as pessoas se descobriram independentes de sua própria capacidade motriz: não precisavam mais dela para se locomover, garantir segurança e sobreviver.

Mecanismos complexos movidos a vapor e até mesmo simples, completamente feitos em madeira substituíram o homem na produção. Um grande contingente de trabalhadores que se utilizavam dos movimentos corporais diversos para realizar trabalho e gerar riquezas foi colocado de lado, porém, uma grande maioria foi rapidamente encaixada em uma outra função: as linhas de produção. Num processo denominado Fordismo, o qual a “máquina humana” trabalhava em conjunto com a “máquina mecânica”, onde cabia ao homem a realização de um mesmo movimento milhares de vezes ao dia ininterruptamente.

Desse ponto em diante instalou-se uma divergência de caminhos: de um lado as linhas de produção tiveram um momento de alta produtividade em contraponto à desvalorização do ser humano, castigado pelos movimentos repetitivos e exploração trabalhista. (Tempos Modernos – Chaplin), contudo coexistem até os dias atuais, mas totalmente mecanizadas na sua totalidade e aonde ainda operam em “parceria” com o homem existem preocupações quanto ao respeito ao organismo humano e há leis trabalhistas que o protegem, além da Ginástica Laboral, criada para amenizar e tratar as dores provenientes do trabalho irregular com o corpo. Já o outro caminho, delega o ser humano substituído pela máquina e que vem se adaptando as novas funções que excluem o uso do trabalho corporal, pois as invenções tecnológicas têm como principal objetivo deslocar o trabalho mecânico humano inserindo o trabalho mecânico artificial que lhe permita alta produtividade com poucos gastos, resultados que o mundo capitalista amadurecido pela Revolução Industrial não conseguiria alcançar sem grande número de assalariados, o que iria contra a lógica do período.

Concluindo: o desuso do corpo no trabalho teve origem no advento da criação das primeiras máquinas, a “grande máquina biológica” moldada por milhões de anos de evolução, conforme a lógica da procura das modificações que a capacitou a apresentar movimentos coordenados, força e velocidade foram posta de lado, dando seu lugar aos mecanismos e engenhocas por ela mesma produzidas, sem saber que estava ali dando origem a um grande mal da atualidade, a inatividade.

Desde a Revolução Industrial o homem vem enfrentando uma nova realidade, a qual o movimento já não constitui base de sobrevivência e esse curto tempo se contrapõe aos 250 séculos de adaptações que nosso organismo se submeteu, desde o surgimento do Homo Sapiens.

Note que não transcorreu tempo suficiente a fim de possibilitar ao organismo qualquer tipo de adaptação à inatividade que lhe vem sendo imposta ultimamente, exemplo atual é a Revolução da Robótica que expulsa o homem do trabalho e o desqualifica como parte de um processo de produção industrial.

O resultado da negligência com a movimentação configura-se na expansão das hipocinesias, caracterizadas pela diminuição anormal da função ou atividade motora – “Amplo complexo de modificações orgânicas funcionais ocorridas em quase todos os sistemas devido a falta de atividade física, coadjuvada por alimentação excessiva e mal balanceada, superestimulação nervosa, fumo e alcoolismo”.(Mellerowicz).

Agora leia novamente o primeiro parágrafo do texto e reflita, pense, argumente, filosofe sobre a palavra revolução. Se os resultados de uma revolução são positivos, temos uma evolução, caso contrário, temos estagnação ou retrocesso.

A “Industrial”, certamente favoreceu os meios de produção, a evolução tecnológica, porém, se não nos “presenteasse” com tais benefícios seria interpretada como uma “involução”, pois houve um grande retrocesso em relação ao uso do corpo. Evoluímos por um lado e “desevoluímos” por outro. Em suma, devemos analisar este processo histórico do ponto de vista que nos é mais favorável, em nosso caso, o ponto a ser analisado é a saúde do ser humano.

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