A atividade e o exercício físico oferecem proteção contra mortalidade por todas as causas (NOCON et al., 2008) aparentemente seguindo um modelo de dose-resposta (LEE; SKERRETT, 2001; LOPRINZI, 2015). Nesse sentido, melhoras nos níveis de condicionamento cardiorrespiratório (KODAMA et al., 2009; LEE et al., 2011) e força muscular (DANKEL; LOENNEKE; LOPRINZI, 2016) parecem oferecer proteção contra todas as causas de morte.
Tendo em vista a importância do condicionamento cardiorrespiratório e manutenção dos níveis de força, Garber et al., (2011) recomendam a combinação de treinamento aeróbio (TA) moderado (≥ 30 minutos por dia ≥ 5 dias por semana acumulando ≥ 150 minutos por semana) ou vigoroso (≥ 20 minutos por dia ≥ 3 dias por semana acumulando ≥ 75 minutos por semana) somados ao treinamento de força (TF) (2 a 3 vezes por semana) para melhoras no consumo máximo de oxigênio (2máx) e na força respectivamente. No entanto, seguir estas recomendações pode resultar em até 480 minutos por semana de atividade, o que que pode ser intangível para a maior parte das pessoas, considerando que grande barreira para a adesão à rotinas de exercícios é a falta de tempo (ARZU; TUZUN; EKER, 2006; GÓMEZ-LÓPEZ; GALLEGOS; EXTREMERA, 2010; KIMM et al., 2006). Confirmando essa hipótese, 69,8% dos brasileiros entrevistados alegaram falta de tempo para a prática de exercícios físicos (ROSSI et al., 2015)
A prescrição de exercícios sob a perspectiva da modalidade parece não ser determinante quando comparado ao esforço elevado (FISHER; STEELE, 2014). Steele et al., (2012) e Ozaki et al., (2013b) reforçam a hipótese de que o TF seja capaz de promover melhoras no condicionamento cardiorrespiratório e ainda sob a ótica do esforço o TA é capaz de promover melhora nos níveis de força (KONOPKA; HARBER, 2014; OZAKI et al., 2013a, 2015a, 2015b).
A contextualização do exercício físico através da perspectiva do esforço gera hipóteses de que a modalidade realizada pode não ser o fator determinante para as adaptações, desde que o esforço seja alto. (FISHER; STEELE, 2014). Segundo Steele et al., (2012) realizar TF com estímulos de alto esforço promove adaptações agudas que podem impactar positivamente nas adaptações aeróbias tais como aumento do consumo de oxigênio (2) produção de lactato, ativação da adenosina monofosfato kinase e estresse vascular. Por outro lado realizar TA em ciclo ergômetro em alta intensidade é capaz de promover contrações musculares e respostas fisiológicas semelhantes às encontradas no TF (STEELE et al., 2018; VILAÇA-ALVES et al., 2016). Dentro desta perspectiva, o TF poderia ser capaz de promover melhoras no condicionamento cardiorrespiratório (MCCARTHY et al., 1995; SHAW; SHAW, 2009; STONE et al., 1983) e o TA nos níveis de força (BUŚKO; MADEJ; MASTALERZ, 2008; MARTINEZ – VALDES et al., 2017; TABATA et al., 1990).
Quando intensidade e o esforço foram equiparados pela potência de limiar anaeróbio ventilatório 1 (LAV1) o TF (supino e leg press) foi capaz de promover consumo de oxigênio semelhante ao TA (ciclo ergômetro de membros inferiores e superiores) (VILAÇA-ALVES et al., 2016). Confirmando tais achados Steele et al.,(2018) compararam 2, coeficiente respiratório, acúmulo de lactato, gasto energético, inchaço muscular e atividade eletomiográfica promovidas pelo TA e TF com esforço e duração similares (4 séries máximas com ~1 minuto de duração e 4 minutos de intervalo) e não houve diferença nas variáveis avaliadas, o que deu suporte à especulações anteriores de Fisher; Steele, (2014).
Os resultados encontrados mostraram que independente do modelo de treino adotado, quando há equiparação de esforço e duração as alterações promovidas podem ser similares. O que pode explicar o fato de ser possível melhorar os níveis de força e no 2máx em adultos jovens com a realização apenas do TF (ANDROULAKIS-KORAKAKIS et al., 2017; MCCARTHY et al., 1995; SHAW; SHAW, 2009; SHAW; SHAW; BROWN, 2009) ou do TA (MARTINEZ – VALDES et al., 2017; NELSON et al., 1990; TABATA et al., 1990).
Como dito antes, aumentar a força e o 2máx é capaz de prevenir contra mortalidade por todas as causas, (DANKEL; LOENNEKE; LOPRINZI, 2016; KODAMA et al., 2009; LEE et al., 2011). Ao analisar as recomendações de Garber et al., (2011) para aumento na força e no condicionamento cardiorrespiratório seria necessário demanda de tempo, algo que pode ser impraticável para uma grande parte da população (ARZU; TUZUN; EKER, 2006; GÓMEZ-LÓPEZ; GALLEGOS; EXTREMERA, 2010; KIMM et al., 2006). As evidências mostram que o indivíduo que deseje melhorar os níveis de força e condicionamento cardiorrespiratório poderá escolher entre uma vasta gama de modalidades sem afetar o grau de adaptação (VILAÇA-ALVES et al., 2016) e com menor comprometimento de tempo.
A realização do exercício físico dentro da perspectiva do esforço abre um vasto leque de possibilidades com relação a escolha do tipo de exercício (aeróbio ou força), desde que seja sob a ótica do esforço. Ou seja: seria possível pedalar e aumentar força assim como é possível realizar o treinamento de força e aumentar condicionamento cardiorrespiratório.
Referências Bibliográficas
ANDROULAKIS-KORAKAKIS, P. et al. The effects of exercise modality during additional ʼhigh-intensity interval trainingʼ upon aerobic fitness and strength in powerlifting and strongman athletes. Journal of Strength and Conditioning Research, p. 1, abr. 2017.
ARZU, D.; TUZUN, E. H.; EKER, L. Perceived barriers to physical activity in university students. Journal of sports science & medicine, v. 5, n. 4, p. 615–20, 2006.
BUŚKO, K.; MADEJ, A.; MASTALERZ, A. Changes of muscle torque after sprint and endurance training performed on the cycle ergometer. Biology of Sport, 2008.
DANKEL, S. J.; LOENNEKE, J. P.; LOPRINZI, P. D. Determining the Importance of Meeting Muscle-Strengthening Activity Guidelines: Is the Behavior or the Outcome of the Behavior (Strength) a More Important Determinant of All-Cause Mortality? Mayo Clinic proceedings, v. 91, n. 2, p. 166–74, fev. 2016.
FISHER, J.; STEELE, J. Questioning the Resistance/Aerobic Training Dichotomy: A commentary on physiological adaptations determined by effort rather than exercise modality. Journal of human kinetics, v. 44, p. 137–42, 9 dez. 2014.
GARBER, C. E. et al. American College of Sports Medicine position stand. Quantity and quality of exercise for developing and maintaining cardiorespiratory, musculoskeletal, and neuromotor fitness in apparently healthy adults: guidance for prescribing exercise. Medicine and science in sports and exercise, v. 43, n. 7, p. 1334–59, jul. 2011.
GÓMEZ-LÓPEZ, M.; GALLEGOS, A. G.; EXTREMERA, A. B. Perceived barriers by university students in the practice of physical activities. Journal of sports science & medicine, v. 9, n. 3, p. 374–81, 2010.
KIMM, S. Y. S. et al. Self-perceived barriers to activity participation among sedentary adolescent girls. Medicine and Science in Sports and Exercise, v. 38, n. 3, p. 534–540, 2006.
KODAMA, S. et al. Cardiorespiratory fitness as a quantitative predictor of all-cause mortality and cardiovascular events in healthy men and women: a meta-analysis. JAMA, v. 301, n. 19, p. 2024–35, 20 maio 2009.
KONOPKA, A. R.; HARBER, M. P. Skeletal Muscle Hypertrophy After Aerobic Exercise Training. Exercise and Sport Sciences Reviews, v. 42, n. 2, p. 53–61, abr. 2014.
LEE, D.-C. et al. Comparisons of leisure-time physical activity and cardiorespiratory fitness as predictors of all-cause mortality in men and women. British Journal of Sports Medicine, v. 45, n. 6, p. 504–510, 1 maio 2011.
LEE, I. M.; SKERRETT, P. J. Physical activity and all-cause mortality: what is the dose-response relation? Medicine and science in sports and exercise, v. 33, n. 6 Suppl, p. 2024–2035, jun. 2001.
LOPRINZI, P. D. Dose-response association of moderate-to-vigorous physical activity with cardiovascular biomarkers and all-cause mortality: Considerations by individual sports, exercise and recreational physical activities. Preventive medicine, v. 81, p. 73–7, dez. 2015.
MARTINEZ – VALDES, E. et al. Differential Motor Unit Changes after Endurance or High-Intensity Interval Training. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 49, n. 6, p. 1126–1136, jun. 2017.
MCCARTHY, J. P. et al. Compatibility of adaptive responses with combining strength and endurance training. Medicine and science in sports and exercise, v. 27, n. 3, p. 429–36, mar. 1995.
NELSON, A. G. et al. Consequences of combining strength and endurance training regimens. Physical therapy, v. 70, n. 5, p. 287–94, maio 1990.
NOCON, M. et al. Association of physical activity with all-cause and cardiovascular mortality: a systematic review and meta-analysis. European journal of cardiovascular prevention and rehabilitation : official journal of the European Society of Cardiology, Working Groups on Epidemiology & Prevention and Cardiac Rehabilitation and Exercise Physiology, v. 15, n. 3, p. 239–46, jun. 2008.
OZAKI, H. et al. Possibility of leg muscle hypertrophy by ambulation in older adults: a brief review. Clinical interventions in aging, v. 8, p. 369–75, 2013a.
OZAKI, H. et al. Resistance training induced increase in VO2max in young and older subjects. European Review of Aging and Physical Activity, v. 10, n. 2, p. 107–116, 15 out. 2013b.
OZAKI, H. et al. Physiological stimuli necessary for muscle hypertrophy. The Journal of Physical Fitness and Sports Medicine, v. 4, n. 1, p. 43–51, 2015a.
OZAKI, H. et al. Cycle training induces muscle hypertrophy and strength gain: strategies and mechanisms. Acta physiologica Hungarica, v. 102, n. 1, p. 1–22, mar. 2015b.
ROSSI, P. et al. Diagnóstico Nacional do Esporte: DIESPORTE. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/diesporte/diesporte_grafica.pdf>. Acesso em: 30 out. 2017.
SHAW, B. S.; SHAW, I. Compatibility of concurrent aerobic and resistance training on maximal aerobic capacity in sedentary males. Cardiovascular journal of Africa, v. 20, n. 2, p. 104–6, 2009.
SHAW, B. S.; SHAW, I.; BROWN, G. A. Comparison of Resistance and Concurrent Resistance and Endurance Training Regimes in the Development of Strength. Journal of Strength and Conditioning Research, v. 23, n. 9, p. 2507–2514, dez. 2009.
STEELE, J. et al. Resistance Training to Momentary Muscular Failure Improves Cardiovascular Fitness in Humans: A Review of Acute Physiological Responses and Chronic Physiological Adaptations. Journal of Exercise Physiology, v. 15, p. 53–80, 2012.
STEELE, J. et al. Similar acute physiological responses from effort and duration matched leg press and recumbent cycling tasks. PeerJ, v. 6, p. e4403, 2018.
STONE, M. H. et al. Cardiovascular responses to short-term olympic style weight-training in young men. Canadian journal of applied sport sciences. Journal canadien des sciences appliquees au sport, v. 8, n. 3, p. 134–9, set. 1983.
TABATA, I. et al. Effect of high-intensity endurance training on isokinetic muscle power. European journal of applied physiology and occupational physiology, v. 60, n. 4, p. 254–8, 1990.
VILAÇA-ALVES, J. et al. Comparison of oxygen uptake during and after the execution of resistance exercises and exercises performed on ergometers, matched for intensity. Journal of Human Kinetics, v. 53, n. 1, 1 jan. 2016.