Uma Visão Prática da Cinética Angular

Por Carlos Magno

6 de abril de 2004

Os movimentos humanos são realizados por contrações musculares que geram forças excêntricas às articulações, causando movimentos angulares nos segmentos ósseos. Partindo desse princípio, podemos afirmar de maneira bastante peculiar que o treinamento esportivo é o controle de uma série de movimentos angulares que permite uma interação do corpo humano com o meio para a realização de objetivos específicos. Torna-se então evidente que conhecer e aplicar alguns conceitos básicos da cinética angular são importantes para otimização dos resultados do treinamento.

Hay e Reid (1985) afirmam que a vantagem mecânica influência na quantidade de tensão que o músculo pode produzir. A quantidade máxima de carga que pode ser levantada em qualquer exercício é determinada pela quantidade de carga que pode ser movida em seu ponto mais fraco no movimento (Fleck e Kraemer, 2002). 
Fleck e Kraemer (2002) definem como região presa de um exercício dinâmico a parte em que é mais difícil continuar a movimentar a carga; dificuldade essa causada pela variação do momento (ou torque) durante o movimento, que cria uma desvantagem mecânica em certos instantes. De uma forma simples, podemos dizer que quanto maior a vantagem mecânica, menor será a o esforço exigido (Geraldes, 1993). Em exercícios com pesos livres não é tarefa complicada determinar em que posição ocorre maior ou menor vantagem mecânica. 
Para iniciar a discussão vamos definir algebricamente o momento de força:

M = F x df

Onde: M = momento ou torque; F = magnitude da força (peso); df = distância perpendicular da força e o eixo de rotação. 

Podemos notar que a equação é composta de apenas três termos (vale ressaltar que estamos desprezando todas as demais interações com o meio como resistência do ar e atrito, entre outras forças). Como o peso não irá variar durante a execução do movimento, a única variável que pode alterar o momento é a distância perpendicular entre a força e o eixo de rotação (geralmente o eixo é a articulação em torno da qual ocorre o movimento). Observemos o exercício de rosca direta para ilustrar a situação:

Na figura 1 está ilustrado o ângulo em que os músculos flexores do cotovelo exercem maior força para executar o movimento, isto é, o ângulo em que há necessidade de se opor ao maior momento.

Como utilizar esse conceito, relativamente simples, para melhorar o treinamento?

(Fleck & Kraemer, 1999) sugerem que exercícios isométricos dentro dessa região presa aumentarão a força muscular nesses ângulos e podem assim contribuir para o desempenho no exercício dinâmico. Um sistema isométrico funcional que implica em executar o exercício em uma pequena faixa de amplitude (aproximadamente 5 cm de amplitude), associado ao treinamento com resistência invariável causa aumentos significativamente maiores na força que o treinamento de resistência invariável isoladamente (Jackson et al, 1985 apud Fleck e Kraemer, 2002).

Uma outra estratégia interessante é a utilização de exercícios que proporcionem maiores torques em ângulos articulares diferentes para um mesmo grupamento muscular. Um exemplo seria a execução de rosca bíceps, direta e com apoio no banco Scott. 

Ou ainda uma rosca francesa em pé ou no banco inclinado:

Diversos equipamentos têm sido desenvolvidos com resistência variável para adaptar-se aos diferentes momentos em toda amplitude do exercício, com o intuito de forçar o músculo a contrair-se quase até o máximo por toda a extensão do movimento, resultando em ganhos máximos de força. (Fleck e Kraemer, 2002). Contudo, nem sempre esses equipamentos estão a nosso alcance. Análises desse tipo tornam-se bastante úteis para a seleção de exercícios quando não há disponibilidade de materiais para a variação do treinamento. Sempre que possível é interessante confeccionar um diagrama do corpo livre (esquema onde estão representadas o corpo e todas as forças que agem sobre ele) para melhor visualizar os exercícios e as suas variações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

McGINNIS, Peter M. Biomecânica do Esporte e do Exercício. Editora Armed. Porto Alegre, 2002.
HAY, James G. e REID J. Gavin. As bases Anatômicas e Mecânicas do Movimento Humano. Editora Prentice-Hall do Barsil. Rio de Janeiro, 1985.
FLECK, Steven J. e KRAEMER, Willian J. Fundamentos do Treinamento de Força Muscular – 2ª edição. Editora Artmed. São Paulo, 2002.
GERALDES, Amandio A. R. Ginástica Localizada – Teoria e Prática – 2ª Edição. Editora Sprint.Rio de Janeiro, 1993.

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